domingo, 23 de maio de 2010
O silêncio do leite dentro dum copo
O copo de leite escapou de minhas mãos indo depositar-se no canto do teto. Observei-o lá de cima parado como que me observando por dentro. Não tinha asas não tinha olhos e apenas o branco em ausência de vida desmistificado pelas natas que mais pareciam rugas tortas em sua face pálida. Ficamos a ler um ao outro enquanto sentia-me levitar devagarinho e mais um pouco já estava me espremendo para dentro do liquido espesso e minhas pernas e a cintura como que eram esmagadas pela boca do copo e já no ombro quando dei por mim também a cabeça e já não existia sim! Eu não existia pois tudo que era de mim tornara-se leite.
Estou morto? Estou morto? - Sussurrei em borbulhas à memória de vacas. Não, apenas escorregando e sendo engolido e empurrado goela a baixo rumo o desconhecido.
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